"Eu respiro tentando encher os pulmões de vida
Mas ainda é difícil deixar qualquer luz entrar
Ainda sinto por dentro toda a dor dessa ferida
Mas o pior é pensar que isso um dia vai cicatrizar
Eu queria manter cada corte em carne viva
A minha dor em eterna exposição
E sair nos jornais e na televisão
Só pra te enlouquecer
Até você me pedir perdão
Eu já ouvi 50 receitas pra te esquecer
Que só me lembram que nada vai resolver
Porque tudo, tudo me traz você
E eu já não tenho pra onde correr
O que me dá raiva não é o que você fez de errado
Nem seus muitos defeitos, nem você ter me deixado
Nem seu jeito fútil de falar da vida alheia
Nem do que eu não vivi aprisionado em sua teia
O que me dá raiva são as flores e os dias de Sol
São os seus beijos e o que eu tinha sonhado pra nós
São seus olhos e mãos e seu abraço protetor
É o que vai me faltar, quê fazer do meu amor?
Eu já ouvi 50 receitas pra te esquecer
Que só me lembram que nada vai resolver
Porque tudo, tudo me traz você
E eu já não tenho pra onde correr..."
segunda-feira, 29 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Caio Fernando Abreu 7
"Dói de todos os lados, os de fora, os de dentro, de baixo e de cima, nenhuma saída, e você meio cego, meio tonto, só sabe que tem que continuar, meio sem esperança, as ilusões despedaçadas, o coração taquicárdico, língua seca, e continuando. Continuando. Resistimos, aos trancos, já nem sei se foi escolha ou solavanco. Difícil arrancar uma certa lucidez disso tudo. Mas sinto que o coração se depura (é tão antigo falar em coração...) um pouco mais, em cada porrada. Meu olho compreende cada vez mais. Pode ser útil, mas gosto assim, aqui (...) E resisto. Gosto de mim assim, e mesmo que não houvesse mais, só por isso. Por resistir. Quando o mais coerente seria estar, talvez, numa clínica psiquiátrica."
Caio Fernando Abreu 6
"Tenho
trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã,
mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite
avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos… Sabe, eu me perguntava
até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria
ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção
daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você
todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez
nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar
era não mais conseguir ver, entende? Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto
que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar,
sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além,
compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria
mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. Mas se
você tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em
meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir
em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer,
lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia —
qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo
sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero
como um tempo perdido. Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa
dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram
coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de
mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de
continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará,
porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo. Mesmo
que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes
de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo,
enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. … E eu acho
que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não
querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu
coração, sua cabeça, como uma sombra escura."
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